terça-feira, 22 de maio de 2012

“Eu Superei o Medo de Ficar Só”

Reportagem:22/09/2008 


 Intérprete da divertida Elzinha, em Ciranda de Pedra, a atriz de 26 anos afirma que sua tranqüilidade é apenas aparente, diz que o estresse levou sua taxa de colesterol e fala da dureza que foi enfrentar a morte do pai, o advogado Júlio Brás, quando tinha apenas 11 anos.

 Caía a tarde na Gávea, bairro da Zona Sul do Rio, quando a atriz Leandra Leal, de 26 anos, recebeu a equipe de QUEM no prédio onde mora. Nos fundos do edifício, enquanto esperava para ser fotografada, a intérprete da divertida Elzinha de Ciranda de Pedra – que acaba de ganhar o prêmio de melhor atriz do Festival de Gramado por sua atuação em Nome Próprio, longa de Murilo Salles –, olhava as árvores e suspirava: “Queria esta área para mim. Montaria um ateliê de criação”, dizia, encantada com o verde a seu redor. Em São Paulo, onde vive parte de seu tempo, fica em um apartamento no bairro de Perdizes, na Zona Oeste da capital. Divide o endereço com o namorado, José Paes de Lira, o Lirinha, da banda Cordel do Fogo Encantado. O casal está junto há cinco anos, mas Leandra afirma que não pensa em ter filhos tão cedo. “Adoro crianças, me divirto com elas, mas ainda quero viajar e morar fora.”

Durante duas horas de conversa, contou que foi muito paparicada quando criança e que sua mãe, a atriz Ângela Leal, nunca deixou que nada lhe faltasse depois da morte do pai, o advogado Júlio Brás, de um infarto fulminante, quando ela tinha 11 anos. A dor da perda e o medo da solidão, disse Leandra, fizeram com que ela, ainda menina, decidisse se dedicar à carreira de atriz. “Tinha que fazer alguma coisa com a minha vida.” Famosa por sua personalidade forte, Leandra afirma que amadureceu. No entanto, continua se envolvendo em polêmicas. A mais recente foi o apoio público ao colega Caio Blat em sua resposta ao autor Manoel Carlos, que dizia que os atores deveriam falar menos bobagens. Nesta entrevista, a atriz diz que é superativa e que, por causa do estresse, andou com a taxa de colesterol alta: “Vou fazendo as coisas, achando que vai dar tempo e, quando vejo, estou dormindo só cinco horas por dia”.

QUEM: É verdade que você quase nasceu dentro de um cinema?
LEANDRA LEAL
: Minha mãe estava vendo Victor ou Victoria com um amigo, aí começou a sentir as contrações e a bolsa estourou. Ela foi para casa e depois para o Hospital da Beneficência Portuguesa, na Glória, onde nasci.

QUEM: Raramente falam de seu pai, o advogado Júlio Brás, que morreu quando você tinha 11 anos. Como era a relação de vocês?
LL
: Ele era incrível, tudo de bom, uma figura supercompanheira. Aposentou-se quando eu tinha 10 anos, para ficar mais comigo. Ele e minha mãe moravam cada um em sua casa, mas ele sempre foi muito presente, me levava ao balé – todas as mães esperando suas filhas e ele era o único pai. Isso aconteceu principalmente em 1990, quando minha mãe viajava muito para gravar Pantanal. Depois que meu pai morreu é que comecei a levar a sério meu lado atriz. A morte dele foi muito inesperada para mim, e terrível, de um certo modo. Naquele momento, pensei: “Tenho que fazer alguma coisa”. No dia da missa de sétimo dia, eu já estava atuando na série Confissões de Adolescente. Foi imediato.

Depois que meu pai morreu é que comecei a levar a sério meu lado atriz. (...) no dia da missa de sétimo dia, eu já estava atuando na série Confissões de Adolescente.
Foi imediato.
 QUEM: Você parece politizada. Como vê o governo do presidente Lula?
LL
: Eu acho meio irreal não ser politizado. Vivemos em um sistema político e nossa vida é afetada por ele. Você pode ficar se queixando que o trânsito está um absurdo ou tentar entender o porquê das coisas. Eu sou questionadora e isso não é porque sou atriz. Se fosse professora, por exemplo, seria assim também. Votei no Lula e, em 1989, fiz campanha para ele, mas faço críticas. Ele é do meu time. Sou de esquerda e acho que avançamos muito no processo de conscientização política, mas também vejo que a reforma tributária não andou e que temos uma questão séria quanto à educação. Nosso abismo social só vai ser reduzido com uma reforma na educação.

QUEM: No ano passado, você encabeçou a lista de atores insatisfeitos com Páginas da Vida e, neste ano, apoiou Caio Blat em sua resposta à crônica de Manoel Carlos que dizia que os atores deveriam falar menos bobagens. Você gosta de polemizar?
LL
: Aprendi a ser mais seletiva com o que falo. Agora, utilizo o blog como uma forma de divulgação de idéias e projetos. Cada vez faço menos textos pessoais.

QUEM: Tem medo de ser tachada de chata dentro da Globo?
LL
: Eu gosto muito de trabalhar na Globo. Não vejo a Globo como a grande emissora que controla todos. Pelo menos comigo eles sempre foram muito bacanas. Sou artista, mas bato cartão, sou funcionária. Apesar de ter todo esse glamour em volta, eu não visto essa carapuça.

QUEM: Você começou a carreira de atriz ainda criança. Também foi precoce na vida pessoal?
LL
: Não! Sou supernormal (risos). Tenho 26 anos e um relacionamento amoroso de cinco. Quanto à sexualidade, o que rola entre quatro paredes não deve se tornar público.

QUEM: Você pensa em ter filhos?
LL
: Toda mulher pensa em ter filhos, mas não faço planos, não sou sonhadora a esse ponto. Adoro crianças, me divirto com elas, me dou bem, mas eu ainda não quero ter filhos. Sei que tudo é possível com filhos, mas ainda quero viajar, morar fora. Por isso não penso nisso no momento.

QUEM: Você é uma pessoa superativa?
LL
: Sou, totalmente! Tenho uma amiga que também é e acorda às 5h da manhã para correr. Eu não sou assim. Sou tranqüila por fora e hiperativa por dentro. Isso é bom, porque consigo realizar quatro coisas ao mesmo tempo, mas é ruim quando quero desacelerar e entrar de férias. Demoro uns dez dias para entrar de férias mesmo. Recentemente, fiz exames e estava com o colesterol alto por estresse. Pensei: “Não acredito que eu sou estressada!”, mas sou. Vou fazendo as coisas, achando que vai dar tempo e, quando vejo, estou dormindo só cinco horas por dia.

Superei o medo de ficar só. (...) com 12 anos, eu já tinha ido a dez enterros.
Amo muito e sei que o amor é maior do que a presença.


QUEM: Sua infância foi cercada de gente famosa. Que situações mais te marcaram?
LL
: Várias. Lembro da Elza Soares cantando parabéns para mim no meu aniversário. Lembro que, aos 5 anos, fui dama-de-honra do casamento do Grande Otelo. Meus aniversários também eram mágicos. Minha mãe tinha muitos amigos figurinistas, cenógrafos e os temas eram os mais loucos (risos). O tema do meu aniversário de 7 anos foi a China, e era tudo! Minha mãe de quimono e todos os amigos dela também! Só adulto louco para topar se vestir de quimono em uma festa de criança (risos) . Ela, mesmo com problemas financeiros, não deixava que isso chegasse até mim. Sou filha única, e foi muito legal o conto de fadas que minha mãe criou para mim.

QUEM: Você já declarou que conheceu a maconha antes de seus colegas de escola. Como se relaciona com as drogas hoje?
LL
: Não sou usuária, mas sou a favor da legalização, e não tenho problema nenhum em dizer isso. Acho que é uma questão de saúde, não de polícia. Quem tem que correr atrás de junkie é médico, não a polícia.

QUEM: Já superou algum medo?
LL
: Eu superei o medo de ficar só. Acho que todo mundo é criado com a ilusão de que não é só, mas a gente é. Logo que meu pai morreu, eu tive esse medo. Pensei: “Agora minha mãe vai morrer”. Só que a gente pode dar a mão para alguém no caminho. Com 12 anos eu já tinha ido a dez enterros. Eu amo muito e sei que o amor é maior do que a presença.
Fonte:revistaquem.globo.com

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