Reportagem:
22/09/2008
Intérprete da divertida Elzinha, em Ciranda de Pedra, a atriz de 26 anos afirma
que sua tranqüilidade é apenas aparente, diz que o estresse levou sua taxa de
colesterol e fala da dureza que foi enfrentar a morte do pai, o advogado Júlio
Brás, quando tinha apenas 11 anos.
Caía a tarde na Gávea, bairro da Zona Sul do Rio, quando a atriz Leandra
Leal, de 26 anos, recebeu a equipe de QUEM no prédio onde mora. Nos
fundos do edifício, enquanto esperava para ser fotografada, a intérprete da
divertida Elzinha de Ciranda de Pedra – que acaba de ganhar o prêmio de melhor
atriz do Festival de Gramado por sua atuação em Nome Próprio, longa de
Murilo Salles –, olhava as árvores e suspirava: “Queria esta
área para mim. Montaria um ateliê de criação”, dizia, encantada com o verde a
seu redor. Em São Paulo, onde vive parte de seu tempo, fica em um apartamento no
bairro de Perdizes, na Zona Oeste da capital. Divide o endereço com o namorado,
José Paes de Lira, o Lirinha, da banda Cordel do Fogo
Encantado. O casal está junto há cinco anos, mas Leandra afirma que não
pensa em ter filhos tão cedo. “Adoro crianças, me divirto com elas, mas ainda
quero viajar e morar fora.”
Durante duas horas de conversa, contou que
foi muito paparicada quando criança e que sua mãe, a atriz Ângela
Leal, nunca deixou que nada lhe faltasse depois da morte do pai, o
advogado Júlio Brás, de um infarto fulminante, quando ela tinha
11 anos. A dor da perda e o medo da solidão, disse Leandra, fizeram com que ela,
ainda menina, decidisse se dedicar à carreira de atriz. “Tinha que fazer alguma
coisa com a minha vida.” Famosa por sua personalidade forte, Leandra afirma que
amadureceu. No entanto, continua se envolvendo em polêmicas. A mais recente foi
o apoio público ao colega Caio Blat em sua resposta ao autor Manoel Carlos, que
dizia que os atores deveriam falar menos bobagens. Nesta entrevista, a atriz diz
que é superativa e que, por causa do estresse, andou com a taxa de colesterol
alta: “Vou fazendo as coisas, achando que vai dar tempo e, quando vejo, estou
dormindo só cinco horas por dia”.
QUEM: É verdade que você quase
nasceu dentro de um cinema?
LEANDRA LEAL: Minha mãe estava vendo
Victor ou Victoria com um amigo, aí começou a sentir as contrações e a bolsa
estourou. Ela foi para casa e depois para o Hospital da Beneficência Portuguesa,
na Glória, onde nasci.
QUEM: Raramente falam de seu pai, o
advogado Júlio Brás, que morreu quando você tinha 11 anos. Como era a relação de
vocês?
LL: Ele era incrível, tudo de bom, uma figura
supercompanheira. Aposentou-se quando eu tinha 10 anos, para ficar mais comigo.
Ele e minha mãe moravam cada um em sua casa, mas ele sempre foi muito presente,
me levava ao balé – todas as mães esperando suas filhas e ele era o único pai.
Isso aconteceu principalmente em 1990, quando minha mãe viajava muito para
gravar Pantanal. Depois que meu pai morreu é que comecei a levar a sério meu
lado atriz. A morte dele foi muito inesperada para mim, e terrível, de um certo
modo. Naquele momento, pensei: “Tenho que fazer alguma coisa”. No dia da missa
de sétimo dia, eu já estava atuando na série Confissões de Adolescente. Foi
imediato.
Depois que meu pai morreu é que comecei a levar a
sério meu lado atriz. (...) no dia da missa de sétimo dia, eu já estava atuando
na série Confissões de Adolescente.
Foi imediato.
QUEM: Você parece politizada. Como vê o governo do presidente Lula?
LL: Eu acho meio irreal não ser politizado. Vivemos em um sistema
político e nossa vida é afetada por ele. Você pode ficar se queixando que o
trânsito está um absurdo ou tentar entender o porquê das coisas. Eu sou
questionadora e isso não é porque sou atriz. Se fosse professora, por exemplo,
seria assim também. Votei no Lula e, em 1989, fiz campanha para ele, mas faço
críticas. Ele é do meu time. Sou de esquerda e acho que avançamos muito no
processo de conscientização política, mas também vejo que a reforma tributária
não andou e que temos uma questão séria quanto à educação. Nosso abismo social
só vai ser reduzido com uma reforma na educação.
QUEM: No ano
passado, você encabeçou a lista de atores insatisfeitos com Páginas da Vida e,
neste ano, apoiou Caio Blat em sua resposta à crônica de Manoel Carlos que dizia
que os atores deveriam falar menos bobagens. Você gosta de polemizar?
LL: Aprendi a ser mais seletiva com o que falo. Agora, utilizo o
blog como uma forma de divulgação de idéias e projetos. Cada vez faço menos
textos pessoais.
QUEM: Tem medo de ser tachada de chata dentro
da Globo?
LL: Eu gosto muito de trabalhar na Globo. Não vejo a
Globo como a grande emissora que controla todos. Pelo menos comigo eles sempre
foram muito bacanas. Sou artista, mas bato cartão, sou funcionária. Apesar de
ter todo esse glamour em volta, eu não visto essa carapuça.
QUEM: Você começou a carreira de atriz ainda criança. Também foi
precoce na vida pessoal?
LL: Não! Sou supernormal (risos). Tenho 26
anos e um relacionamento amoroso de cinco. Quanto à sexualidade, o que rola
entre quatro paredes não deve se tornar público.
QUEM: Você
pensa em ter filhos?
LL: Toda mulher pensa em ter filhos, mas não
faço planos, não sou sonhadora a esse ponto. Adoro crianças, me divirto com
elas, me dou bem, mas eu ainda não quero ter filhos. Sei que tudo é possível com
filhos, mas ainda quero viajar, morar fora. Por isso não penso nisso no momento.
QUEM: Você é uma pessoa superativa?
LL: Sou,
totalmente! Tenho uma amiga que também é e acorda às 5h da manhã para correr. Eu
não sou assim. Sou tranqüila por fora e hiperativa por dentro. Isso é bom,
porque consigo realizar quatro coisas ao mesmo tempo, mas é ruim quando quero
desacelerar e entrar de férias. Demoro uns dez dias para entrar de férias mesmo.
Recentemente, fiz exames e estava com o colesterol alto por estresse. Pensei:
“Não acredito que eu sou estressada!”, mas sou. Vou fazendo as coisas, achando
que vai dar tempo e, quando vejo, estou dormindo só cinco horas por dia.
Superei o medo de ficar só. (...) com 12 anos, eu
já tinha ido a dez enterros.
Amo muito e sei que o amor é maior do que a
presença.
QUEM: Sua infância foi cercada de
gente famosa. Que situações mais te marcaram?
LL: Várias. Lembro da
Elza Soares cantando parabéns para mim no meu aniversário. Lembro que, aos 5
anos, fui dama-de-honra do casamento do Grande Otelo. Meus aniversários também
eram mágicos. Minha mãe tinha muitos amigos figurinistas, cenógrafos e os temas
eram os mais loucos (risos). O tema do meu aniversário de 7 anos foi a China, e
era tudo! Minha mãe de quimono e todos os amigos dela também! Só adulto louco
para topar se vestir de quimono em uma festa de criança (risos) . Ela, mesmo com
problemas financeiros, não deixava que isso chegasse até mim. Sou filha única, e
foi muito legal o conto de fadas que minha mãe criou para mim.
QUEM: Você já declarou que conheceu a maconha antes de seus
colegas de escola. Como se relaciona com as drogas hoje?
LL: Não
sou usuária, mas sou a favor da legalização, e não tenho problema nenhum em
dizer isso. Acho que é uma questão de saúde, não de polícia. Quem tem que correr
atrás de junkie é médico, não a polícia.
QUEM: Já superou algum
medo?
LL: Eu superei o medo de ficar só. Acho que todo mundo é
criado com a ilusão de que não é só, mas a gente é. Logo que meu pai morreu, eu
tive esse medo. Pensei: “Agora minha mãe vai morrer”. Só que a gente pode dar a
mão para alguém no caminho. Com 12 anos eu já tinha ido a dez enterros. Eu amo
muito e sei que o amor é maior do que a presença.
Fonte:revistaquem.globo.com
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